Como combater o racismo no condomínio?
Em 2024, o dia 20 de novembro, antes feriado apenas em algumas cidades brasileiras, passou a ser Dia Nacional da Consciência Negra.
A data representa um marco importante na luta contra o racismo na promoção da igualdade racial no Brasil.
Previsto na Lei 7.716/89, o racismo é considerado crime:
"Art. 1° Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional."
Infelizmente, o racismo continua presente em todos os setores da sociedade por meio de gestos, falas e comportamentos que estão estruturados no nosso dia a dia.
Conhecido como racismo estrutural, o conceito exemplifica a naturalização do racismo na sociedade, que foi construída tendo o preconceito como algo normal.
E, infelizmente, para algumas pessoas, a discriminação é normal sim. Em pleno século 21, depois de tantos avanços tecnológicos e humanos, ainda existem pessoas que fazem distinção entre negros e brancos.
E essa distinção pode estar mais perto do que imaginamos, no condomínio, por exemplo.
No começo do ano, um porteiro negro foi agredido por um morador do condomínio onde trabalhava, em Porto Alegre. Além da agressão física, o porteiro também foi ofendido por termos racistas.
Em situações de racismo no condomínio, como o síndico e o restante dos moradores deve agir?
Continue a leitura e confira tudo o que você precisa saber!
Racismo no condomínio: como acontece?
A justificativa mais comum que um racista usa ao se ver confrontado por suas atitudes é: “Não sou racista, tenho um amigo/parente negro.”
Certamente, você já deve ter ouvido alguém falar essa frase, certo? Pois bem, então, primeiramente, é necessário entender que o racismo vai muito além de ofensas verbais ou atos explícitos de violência.
Existem algumas situações comuns do cotidiano em que o racismo estrutural está escondido, inclusive no condomínio.
Algumas situações, infelizmente comuns, de racismo no condomínio:
- Discriminação em serviços
Confundir um morador negro com um entregador de delivery
Solicitar que um visitante negro entre pela entrada de serviço ou utilize o elevador de serviço
- Comentários racistas
Moradores que fazem comentários ofensivos em algum encontro de moradores ou no grupo do WhatsApp
- Uso de termos ofensivos
Quando moradores estão discutindo e usam termos racistas para causar desconforto em um morador negro
- Diferença no tratamento dos funcionários
Moradores que tratam os funcionários negros com indiferença, sem cordialidade, ao contrário do jeito que falam com funcionários brancos
- Negociação de aluguel
Quando um morador negro tenta alugar ou comprar um imóvel no condomínio e enfrenta resistência do proprietário
O que fazer para eliminar o racismo do condomínio?
PREVENÇÃO: CULTURA DE RESPEITO E INCLUSÃO
Tudo começa com conscientização e educação por meio de palestras, campanhas e treinamentos para que os moradores conheçam mais o tema do racismo e entendam a importância de combater o racismo no condomínio, para então combater em outros lugares.
É imprescindível que os moradores e funcionários saibam que atitudes racistas não serão toleradas, sendo lembrados que racismo é crime e o condomínio tomará as providências legais.
O regulamento interno do condomínio também pode definir algumas regras de convivência, para que conflitos sejam evitados.
Por meio de canais de comunicação ou em cartazes fixados em quadros de avisos, é importante que, frequentemente, o síndico conscientize a todos sobre as implicações do racismo.
CANAIS DE DENÚNCIA
Estabelecer canais anônimos ou confidenciais para que moradores possam denunciar casos de racismo no condomínio sem medo de represálias. O condomínio deve ter um compromisso de investigar e tomar as medidas adequadas em relação às denúncias.
Além dos canais de denúncia internos, também existem os canais oficiais:
Disque 190 - se o crime estiver acontecendo naquele momento
Disque 100 - apresentação de denúncias para o telefone do Governo Federal, através do Disque Direitos Humanos
TREINAMENTO PARA FUNCIONÁRIOS
Todos os funcionários do condomínio, como porteiros, seguranças e zeladores, devem passar por treinamentos regulares sobre diversidade, respeito e identificação de comportamentos racistas.
É essencial que os funcionários sejam orientados sobre como garantir que todas as pessoas, independentemente da cor da pele, sejam tratadas com dignidade e respeito.
DIVERSIDADE E INCLUSÃO
A organização de eventos culturais no condomínio precisa celebrar a diversidade racial, com atividades que ajudem a aumentar a compreensão e a valorização de diferentes culturas.
Além disso, ao preparar campanhas de comunicação para o condomínio, garanta a inclusão de imagens de pessoas de diferentes etnias, promovendo uma representação justa e inclusiva.
EVITAR TERMOS RACISTAS
Existem alguns termos de conotação preconceituosa que já foram utilizados na linguagem popular e hoje, não são mais permitidos. Confira alguns deles para evitar racismo no condomínio:
Meia tigela ➡️ no período da escravidão, caso não alcançassem suas metas, os escravos recebiam apenas metade do prato de comida
Criado-mudo ➡️ sem autorização para fazer barulho, os escravos eram obrigados a segurar objetos para seus senhores
Mulato ➡️ referência a mula (animal), era assim que os filhos das escravas negras abusadas eram chamados
Denegrir ➡️ segundo o dicionário, a definição é "tornar negro, escurecer"
"Ovelha negra", "magia negra", "mercado negro", "lista negra", "a coisa tá preta" ➡️ expressões em que a palavra negro tem sentido pejorativo e significa algo ruim
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Além de o racismo ser crime, com a obrigação de ser denunciado, o racismo no condomínio também pode trazer consequências negativas para a imagem, finanças e harmonia social do empreendimento.
Quando um morador ou funcionário negro sofre racismo no condomínio, outras pessoas podem ser emocionalmente afetadas através de gatilhos desencadeados pela situação.
Um caso de racismo pode afetar as finanças do condomínio, já que uma indenização deverá ser paga, se o episódio for levado a Justiça.
Por isso os síndicos devem inteligência emocional para lidar com o racismo no condomínio, além de promover uma melhor convivência entre os moradores.
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